quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

I.

Quer coco? Eu odeio coco. Quer café com leite? Só tomo leite com Toddy. E ali a me fitar com os olhos de medo, seria desejo, seria somente espelho a refleti o que eu dava a ti? Não existe o olho que vê, medra para algo além do reflexo? E o meu olho que olha te olhar a te perscrutar? Queria com os dedos, como se pega joaninha, colher do instantâneo apenas, a gota de suor que te escorre perto da orelha, comer suor, morder língua, partes menos pudendas, o pé e seu cheiro. Se fosses sangue ai nesta água com sal eu também comeria, teu sangue com gosto de ferrugem, comeria teu sangue, mas você é que é meu vampiro, o no do meu empirismo, você é quem me suga, você uma encarnação de alguma coisa perdida entre lembranças de madeleines (o menino que Proust fazia dormir esperando o beijo da mãe que nunca vinha) e a esperança de um paraíso futuro. Senão agora, quando? Quando passara os momentos deste espaço que se dimensiona em ti, a ti, para ti, por que quando existes, só tu existes, não há possibilidade de desejo sem ti, há desejos como comer,dormir, mas é preciso que haja o. Veja, veja estes seres que nos rodeiam, que nos impede, que distraem seu olhar, mas nunca o meu, este bonecos, que fazem eles? Que sabem eles? Nada. Nada.

II

Ela dizia que antes de ser mulher, era inteira poeta. Sabe o que significa isto? E quando não se é poeta? E quando não posso dizer como na musica, se me faltares nem por isto morro, eu morro você sabe, você devia saber que eu morro. E quando a peregrinação é por dentro sem a possibilidade de se transmutar em gesto, em poemas, em obras, palavras, o que se engasga no peito, o que pulsa como um câncer na garganta? Não correrei atrás de ti como adele h. se é pra ficar doente que seja aqui entre os lençóis que me roçam a pele, entre a fronha que te supõe a boca, entre a escuridão artificial de uma casa cheia de barulhos, quem sabe alegria, de uma rotina que eu também tinha, e até isto você me roubou, e você sabe que também quero te roubar, e sabe mais, que tudo que me das há de ser pouco, que o corpo é pouco, que a alma é pouco, mas eu te dou, para que me dês, alma e corpo. Oh! fúria, veneno, dor que não se grita, dilaceramento lento desprovido de testemunha externa, por dentro a casa continua, e as vozes se alternam: o almoço ta pronto, deixei a pasta em cima da geladeira, você viu o controle do DVD, paralelo a isto, a tudo, ando em ti, meu universo.

III.

A quebra. O rastro de quem te viu. A sorte dos que te detem por mais tempo. As marcas que do azulejo ao caminho de terra tu deixas. Tua vida toda, minha vida. Você falando do infinito,, perguntando se existe vida depois da morte, eu em silencio acho tudo isto de menos quando posso ver a ti, o que é o infinito, senão você, o que é a vida, senão você, vida após a morte, que venha já se for um mundo que não se prende ao efêmero, um tempo sem fim, sem alternâncias e rupturas vindas do que não se estabiliza. Mas a urgência é pelo corpo, que é o amor que digo se não pode ele te prender por mais tempo e provar que sua medida se dá em prazer? É apenas um corpo, eu dizia sozinho pra servir de consolo, consolo que nunca vinha se não das setas que me feriam, tudo que vem de ti me fere, tudo que vem de ti, me cura.